sábado, 1 de setembro de 2007

Ô SOFRIMENTO!

Convesso, desde já, ser um bibliófilo inveterado, um devorador nato de alfárrábios empuerados a notas de rodapés de bulas médicas.Convesso, porém, como acadêmico, ser uma tarefa um tanto ingrata, pra não dizer cruel, ser leitor em um país em se investe mais em estádios de futebol do que em bilbliotecas públicas,nada contra os boleiros.

E em meio a um zilhão de livros que temos que ler nas academias, e com as míseras moedas que nos sobram dos cafés, as bibliotecas se tornam as principais parceiras no árduo caminho torpo dos estudantes. E pensando em desfrutar de uma boa leitura, não a acadêmica, mas a literária, recorro sempre as poucas bibliotecas públicas que nos sobram.E sempre que adentro no prédio de livros empuerrados, olho o velho dorian sentado de cabeça baixa a comtemplar um livro que nunca sai da mesma página, tal uma estátua , ou seria ele uma? bem.....sei lá!

Divagando entre as prateleiras, anotando, olhando de lado, de frente, sentado , encontro um livro que há muito procurava e resolvo me dar o luxo de lê-lo nos poucos momentos de folga.Um lindo Grabriel Marcia Marques " aos seis anos de idade tive que abandonar minha educação para ir para a escola, a primeira frase do livro "

Resolvo levá-lo, eis que me surge uma tecnocrata que me olha de por cima de um piciné, depois daí , amigo...abaixo reproduzo o fatídico diálogo!

- Nome? pergunta-me.

-Stênio urban.......

- Profissão?

-Estudante de comunicação...(me interrompe novamente)

-O nome do livro é...é...é...(vacila)

-Viver para contar!(socorro-a)

-Cortar?

-Contar,Gabriel Garcia Marques( a corrigo novamente)

-Nunca ouvi falar...(eu já havia percebido)

olha-me de reto e diz:

-Errei, havia colocado o nome do tradutor!

completando e meus dados:

-Estado civil?

-Solteiro

Pergunto a interrogante:

-Os dados que já existam no meu cadastro não são suficientes?

-Não!

Para ser mais exato, passo quinze minutos e dezesseis segundos preechendo uma ficha que pedia desde o número da casa ao do CPF.Ela saiu da sala e voltou com uma outra ficha ,essa um termo de conduta e responsabilidade.

-Tem que devolver o livro em sete dias!

-certo.

-não rassure, não amasse, não empreste a terceiros!

-certo.

-está ciente que se não cumprir os termos terá a carteira suspensa e pagará pelos danos do mesmo!

-certo, estou!

chego em casa.ponho o livro em cima de uma pinha de de tantos outros que tenho que ler e me pergunto: porque não aprendi jogar futebol meu Deus!

SINOPSE DO FILME "BOA NOITE E BOA SORTE"

"um filme incrivelmente cativante e surpreedente"
George Clooney critica macarthismo em seu filme “Boa Noite e
Boa Sorte e faz paralelo com o Governo Bush
Não fosse por George Clooney,
com “Boa Noite e Boa Sorte"continuaria um ilustre desconhecido mundo afora. Seu programa See it
Now (Veja Agora) na CBS, nos anos 40 e 50, marcou época nos EUA como precursor
dos noticiários opinativos nos primórdios da televisão. Mas, agora, será
lembrado pelos que lutam pela liberdade de opinião, como o jornalista que
enfrentou Joseph McCarthy, o senador júnior que perseguiu lideranças
democráticas e progressistas através do Subcomitê Permanente do Senado que
“apurava” atividades antiamericanas no final dos anos 40 e até o término da
década de 50.
A coragem e a autonomia de Murrow numa grande rede de TV, como
a CBS, aliada à defesa que fazia da liberdade de opinião, quase lhe custaram à
ancoragem do programa.E sua obsessão reforçou seu papel de ícone da mídia
televisiva dos EUA. O mesmo não se pode dizer da CBS, com suas vacilações,
perseguições e depurações de supostos membros do Partido Comunista Americano.A
tentativa de George Clooney e seu co-roteirista Grant Heslov de equilibrar seu
papel, através do perfil lisonjeiro do presidente da rede televisiva William
Paley (Frank Langella) não reduz o clima de caça às bruxas que reinou naquele
período na redação da CBS.
A validade de “Boa Noite e Boa Sorte”, bordão com
que Murrow encerrava seu programa See at Now, é por mostrar que, em plena Era
Bush Jr., o cinema pode exercer papel de catalisador e formador de opinião. Alan
J.Pakula fez o mesmo com “Todos os Homens do Presidente” ao reforçar as
denúncias contra o governo (Richard) Nixon. Pakula o fez no calor da queda de
Nixon, Clooney preferiu recuperar uma história já esquecida e usá-la para pôr a
nu a farsa que foi o macarthismo.Muitas listas foram feitas, personagens
ilustres foram levados aos tribunais, delatados por seus próprios companheiros,
e, no final, Joseph McCarthy revelou-se um embusteiro. Caiu por corrupção
deslavada, morreu cedo e virou sinônimo de perseguição política às forças
democráticas e progressistas.
Em “Boa Noite, e Boa Sorte”, a história é
centrada em Morrow, seu produtor Fred Friendly (George Clooney) e em seus
editores. Ficam ao redor da mesa de reunião, estúdio e bar. Quando muito a ação
se desloca para quarto e cama. Ou, algumas vezes, para a sala de Paley. Não é um
filme que deixe os personagens se apresentar em sua inteireza. Estão ali numa
função; a de produzir notícias e enfrentar problemas profissionais, defender
valores democráticos e enfrentar com equilíbrio e coragem um personagem de filme
policial: Joseph MCCarthy. Murrow é apenas alguém que luta para levar a
informação a seu público; sua vida, pelo filme, resume-se nisso.
Ele nunca
vibra, apenas sorri, sua satisfação está em apresentar os fatos, mesmo que se
enrede em desmentidos, que poderiam arranhar sua reputação, não como jornalista,
mas como cidadão, que luta pela preservação dos valores democráticos. Uma de
suas primeiras vitórias é contra os militares, que desmobilizam um oficial por
seus pais serem acusados de ligações com o Partido Comunista Americano. Quando
recebe a notícia de que ele foi reintegrado à tropa, todos comemoram, menos
Morrow. Parece que lutar pela reintegração do oficial é apenas parte de seu
trabalho. Seu alvo principal continua sendo McCarthy.
“Boa Noite e Boa
Sorte” não contextualiza a luta de Morrow, coloca-a como um embate entre duas
personalidades fortes, insistentes, dispostas a jogar tudo, para alcançar seu
objetivo. De um lado está ele, Morrow, defensor dos valores democráticos e da
liberdade de opinião, de outro McCarthy, o vilão, perseguidor de comunistas.
Como mote para um filme que faz pensar em Bush como embusteiro, é válido. Outros
filmes, no entanto, contextualizaram melhor o macarthismo. “Culpado por
Suspeita”, de Irwin Winkler, mostra o inferno que virou a vida de um cineasta,
obrigado a fazer filmes de baixo orçamento para sobreviver, ou “Testa de Ferro
por Acaso”, em que Martin Ritt reflete sobre a vida do roteirista Abrahan
Polonski, incluído na lista dos 10 cineastas impedidos de trabalhar em sua
profissão nos EUA daquela época.
No entanto, em “Boa Noite e Boa Sorte”
compreende-se porque a liberdade de opinião e o direito à informação estavam
ameaçados. Estava em jogo uma questão maior: a disputa entre dois sistemas
antagônicos: capitalismo x socialismo. E a direita americana usou McCarthy para
atacar astros, estrelas e técnicos de Hollywood, professores de universidades,
cientistas, escritores e militantes comunistas ou simpatizantes, como forma de
atingir as forças de esquerda americanas. Muitos deles eram europeus, a exemplo
de Bertold Brecht, exilado nos EUA, devido ao nazismo, ou imigrantes que fizeram
a América, caso de Charles Chaplin.
Os personagens de “Culpado por Suspeita”
e de “Testa de Ferro por Acaso” são perdedores, temporários. Morrow é vencedor
em toda a extensão. O veículo em que empreende sua luta contra McCarthy é por
demais poderoso para não arranhar sua imagem de defensor dos valores americanos,
ameaçada pelo senador jr, McCarthy. Em certos momentos, Morrow parece quase
inatingível. Não treme nem quando o patrocinador do programa deixa-o em apuros
perante o patrão Paley. O diálogo entre ambos é sintomático do que se vê hoje: o
empresário da comunicação não quer programa que faça o telespectador refletir,
prefere um que custe menos, dê lucro e não o leve a correr riscos. Igual ao que
ocorre ainda hoje. É a lógica do capitalismo na transformação da informação em
produto.
Morrow, um idealista, não se deixa envolver nestas questões. É
irredutível. Seu discurso, quando, por fim, McCarthy cai, é prova de que a
manutenção da liberdade de opinião e de acesso à informação não é questão tão
simples. Faz parte da grande luta pela superação da informação como produto,
para chegar ao estágio em que o aceso a ela seja um direito, não depende de
manipulação ou da luta de um homem, que, pela visão de Clooney, em “Boa Noite e
Boa Sorte” é quase um herói. Quase porque Morrow, ao se ver acuado por McCarthy,
nega possíveis ligações com o PC Americano e simpatias por Moscou.
Morrow
declara suposta neutralidade, fato comum na imprensa burguesa, em que a falsa
neutralidade, esconde, em verdade, a tendência capitalista da própria mídia:
diz-se imparcial, mas é sustentáculo do próprio sistema.Estas contradições
sobressaem em sua atitude. Pertencer ou ter simpatias pró-comunismo, se é que há
liberdade de expressão no sistema capitalista, deveria ser comum, não motivo de
incriminações, ou de ele ter medo de ter passado ou presente pró-comunismo.
Tendência que seu amigo Don Hollenberg (Ray Wise), comentarista igualmente
brilhante, não nega, porém não suporta a pressão.A cobrança por este tipo dúbio
de comportamento vem, não de alguém de fora, mas do próprio Paley que acha
estranho que Morrow não tenha defendido um verdadeiro comunista, pertencente ao
PC americano.
É um diálogo mordaz, daqueles que nos faz mergulhar fundo e
refletir sobre o comportamento de Morrow. Se não o aranha, pelo menos o coloca
entre aqueles que se aferraram, com razão, à liberdade de expressão e o direito
do cidadão à informação, mas não indo fundo o suficiente para desmascarar não só
McCarthy, mas também à estrutura burguesa.Esta crítica é, aliás, o grande mérito
de Clooney e seu co-roteirista Heslov:era preciso ir mais fundo, desnudar o que
estava realmente em jogo. O que, pelos limites impostos à mídia, notadamente a
TV, seria dar quatro passos à frente.Falta, entretanto, um filme que bata de
frente com Bush. “Boa Noite e Boa Sorte” o faz pelas vias indiretas. Já é um bom
feito.